28/04/2009

SAUDADES DE FUTURO

Vagabundeando pela babugem arenosa,
Caminho, peregrino, sem rumo, pára-quedista
Quem sabe, se levado pela mão dum destino
Numa amena alpardinha de brisa bonançosa
Inebriado pelo fresco odor da iodada maresia
Recordo, penso, projecto e caminho,
Levado pelo canto das ondas - doce hino
Dos mares - pelo embalo de toda a poesia,
Que constrói um verso de luz, suave e fino.
Como se as cores nada tivessem do artista,
Que há tanto as gesta em seu ninho
Lá, na praia, deixei os quatro elementos:
A água, o ar , a terra e o jovem fogo.
De lá me trouxe olhares, sentimentos,
Numa perfeita sintonia. Na cor, um jogo
De mil recordações, outras tantas lembranças...
Quem sabe!... Na pegada doutras infâncias
A tela translúcida de mil tormentos.
Ali, onde um ser concentra toda a existência,
Nesse fim de tarde dourado de puro,
Dum passado projectado nas distâncias,
Quem sabe se não será saudades de futuro?!...

28-04-2009

25/04/2009

Porto das Palavras

Palavras?

Não as vêem desenhadas no rasto da passagem?
Penduradas na cinza das nuvens?
Abraçadas na espuma do mar?
Palavras?
Onde andaram os búzios,
Onde a terra embebeda o mar de ternura
E o abrigo da areia é sempre uma aventura
Lá onde o ouro se fez terra
E o mar se fez santo
Ficou o porto doutro amor
Que enredado de seu pranto
Subi da praia até à serra,
E deixou a ilha em grande estupor.
Palavras lavadas de lágrimas
Ficaram no recanto da saudade
Das tardes cinzentas da memória.
Foi Colombo ?
Foi outro? Que interessa
Se a paisagem é palavra
E a palavra funda o ser
Que na folha ao se escrever
Desenha o olhar, esboça o tema,
Espelha o mar, a terra, o monte, a vida.
A paisagem desta ilha dourada
É já um poema.
E o poema é um porto que tu lavras
Com o arado das palavras.

24-4-2009

06/04/2009

Olhar poesia

A Poesia é um olhar
Prenhe de simplicidade.
É a beleza dum sopro de brisa,
dum barco a passar, a ternura
e a melodia da onda a espraiar...
Quem me dera ter um olhar sereno,
breve, meigo, grande de pequeno,
que solta a joeira no cordel,
que rodopia na terra e
na erva do quintal e do jardim,
capaz de descobrir segredos
no autocarro que passa, fiel...
Olhar o ramo que aninha o pássaro...
Capaz de explodir em descobertas de mim...
Quem me dera poder olhar as coisas
Como da primeira vez, e nos dedos
Descobrir o aroma da frescura,
sentindo o paladar da madrugada!
Olhar extasiado de novidade,
e descobrir toda a beleza do nada.