A ESCRITA
Escrever é sempre um ato solitário.
É uma luta calada no silêncio e no desafio.
Escrever é rasgar, os sentidos em branco por descobrir,
com sulcos de arado no terreno da folha.
Escrever é enfrentar o mundo com a caneta da criatividade,
segurando a charrua, prenhe de novas palavras, com barbas de velhice.
Escrever é trazer no ventre a chuva fecundante
e à estéril mensagem do descobrir aquilo que não pensei existir na leitura do que escrevi.
Escrever é um impulso contra a minha vontade de ficar calado,
porque as palavras saltam-me na mente, como cabritos no prado.
Escrever é colocar as palavras a trepar as cascatas do sentido.
É dobrar os cumes das montanhas e tecer nos verdes da paisagem as flores e os frutos.
Escrever é cravar e ver o que não se diz, nas palavras sempre novas de cada texto.
E mesmo vestidas de longe e já gastas pelo assobiar do vento,
E polidas pelo cansaço do tempo…
As palavras criam sempre o seu caminho,
Mesmo esquecidas na sombra dum sopro do vento.