03/05/2009

A Espera


Ela segura-se ao umbral do tempo.
Nos seus olhos, a esperança dum beijo.
As suas mãos calejadas de desejo
Tocando a pedra fria dos lamentos,
Aguarda a vinda dum filho, dum neto...
Mas a espera foi vã,
Ali permaneceu até tarde,
Desde a primeira hora da manhã.
Na sua alma de mãe velha
A espera dum sorriso arde
De tristeza, de solidão.
Vi-lhe o rosto de pérolas cravejado,
Desgostos da longa vida de aldeã.
Os olhos que dor espelha?!
Não de um dia da mãe,
Mas de viúva, de solidão,
Órfã de filhos e netos...

Olhava da portada do quintal,
A esperança de um abraço.
O odor distante e filial…
Ela que cultiva flores lindas.
Eram malvas e mágoas, no regaço.
Dos canteiros rústicos da sua esperança,
Olha a estrada, encurta a distância,
E espera encostada ao umbral
As gargalhadas perdidas da criança
Que foram dos que não chegam.
Parece que partiram às Índias…
Mas ela continua no umbral porfiada.
Espera a chegada dos que não vem
Porque ela sabe que todos os dias,
Mesmo órfã de filhos, abandonada,
Ela nunca deixou de ser MÃE.
Mãe é sempre porto de chegada!


3/5/2009 Prazeres

3 comentários:

  1. Chorei com o teu poema! E fizeste-me pensar em tantos idosos abandonados que esperam em vão, a visita dos filhos ou de alguém que lhes dê um abraço. Deve ser muito triste envelhecer sozinho!

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  2. Escreveste mesmo no dia?... Fico sempre curiosa a pensar como é que aparecem os teus poemas :) E nem são curtos, nem fáceis! Parabéns :)

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  3. Parabéns pelo texto e pela imagem: parecem falar um com o outro.

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