22/09/2021

 Esta tarde já era tarde


Nesta tarde, quando descia o olhar

no teu rosto iluminado, uma lágrima 

deslizava, meiga e aveludada,

sobre a pele macia de bronze.

Era o teu olhar no meu olhar.

Uma saudade de outro tempo,

de outras tardes douradas

Ou apenas a memória do que já fomos?


Como deslizava o pensamento

sobre o teu rosto derramado?

Como  estacava, de repente,

no cheio vazio da tarde !

Ai! Como nem doía a saudade

daquele passado no ausente?

Como me doía esse momento 

cheio de tarde e vazio de presente.!

E na tarde, aquela lágrima

fecundou o vazio de tormento.


A tarde era apenas um portal

por onde o olhar se perdia

em busca de mim em mim.

Aquele era o momento, 

nessa tarde de novo outono

Nessa tarde principiava o fim!


01/02/2021

MEMÓRIA DESMEMORIADA

Esta é a tarde da tua ausência,

Um breve sopro do teu partir..

Há em mim um choro brando,

Como um leve  e doce sentir...

E a tarde cai como um tordo

E atordoado  levanto o olhar

E o que vejo já não é hoje

É uma memória de pena e dor

Do fui... do que fomos

E apenas isso. Memória...

E a noite chega, sem avisar,

E tudo cobre de silêncio e noite...

E eu aqui. Aqui ? Sim! 

Aqui, porque o lugar não tem memória,

E eu também não a tenho... Agora,

Sou mágoa da dor não sentida.

É bem amarga ...amarga!

Mas  que dor será maior

Que a dor de não ter memória?


11/10/2019

PORQUE MORREM AS PALAVRAS

Porque morrem as palavras
Na voz que as berram
como facas ou punhais?
Porque morrem as palavras
no sopro da vida em que nascem?
Porque me morrem as palavras
No canto tardio dos pardais?
Porque me morrem as palavras
no estio outonal desta tarde?
Porque me morro, sem as palavras
e me faltam os sons duma lágrima?
Porque me falta a viagem
Em que tu, palavra,  não vais?

E as palavras morrem estioladas, sem significado,
Como um rio Tejo na areia da indiferença.
E as palavras  são sonoros ritos banais,
Nas tv's, na net, nas colunas dos jornais!...
no hoje que já é outro ontem,
Essa  vertigem de um nunca vestido de jamais...
Assim morro na negação das  frescas,
Das puras palavras que não dicionarás.

As palavras?!
Essa dor alegre da criação.
Da morte e da ressurreição,
Da treva e da luz...
Como dói a sua ausência num perfume de saudade...
Mas...
As palavras ressuscitarão brancas de prenhe  significado,
Sonoras e puras  num líquido arco-íris de cristais.
E outro universo criarão, de renovado significado,
O epíteto de Toda a Criação.