Sonho
E a ilha aparece alta e redonda de azul,
Vestida de fragas e vales profundos.
Povoada de latadas e rubis vinhedos,
Aromáticos e doces nos segredos.
Esculpida de poios e cantares campesinos.
Ao longe ficam os montes altaneiros
Vestidos de viris e resinosos pinheiros.
Veste-se de mar, vereda dos mundos.
Esta é a ilha madressilva do sonho.
Qual ninfa da aurora beijada do sul
Pelas atlânticas e salgadas aragens.
A real é outra.
Virou as costas e fez tapume ao mar,
Construiu muros e elevou paredões
Arrancou bananeiras, frutas, vistas...
Demoliu cultura e criou o anonimar.
Design que me era desconhecido.
Chamam-lhe os custos do progresso
Mas não sei qual será o preço
Que pagaremos por tal atrevimento.
Não sou o Adamastor temido
Não ameaço, apenas lamento.
Herança deixada às novas gerações.
Quem me dera não ter acordado do sonho!
Mas a vida tem de ser vivida...
Mesmo entre muros e grilhões
Dum horizonte, não sei se azul
Se terrificamente medonho.
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