O arco perfeito duma luz transposta
nas vigas e pilastras dum texto arbóreo
Rompe as emoções e os cantos de pássaros livres,
Onde o ar ganha volume e a música sabor.
Aqui no centro da criação,
No peito da família há um berço criança
Há uma cruz em potente coração,
que em dádiva ao céu se ergue a torre.
E um olhar percorre o Azul infinito
Da criação ondulante gaudiana.
E é um gáudio estar ali, lá e aqui.
Voltar à memória de um curral,
Onde o animal te aconchegou humanamente,
E, animalmente, te escorraçaram da estalagem
com um "não há lugar! Estamos à cunha !"
Aqui tens o teu berço, amparado por anjos,
Onde as mãos de concha maternal seguraram
A alma de um artista maior que o mundo.
Aqui as colunas sobem em árvore ao alto
E como ramos carpinteiam a humanidade de José.
Aqui estou eu, reduzido à formiguinha do pasmo
Bebendo e bebido de espanto num olhar visitante.
Aqui já nem eu sou.
Tornei-me viajante de onde não estou,
Porque a arte não tem arte, mas a beleza tamanha
De ser céu sem artificio nenhum.
No centro da Sagrada Família, Barcelona julho de 2024
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