26/07/2024

 



O arco perfeito duma luz transposta

nas vigas e pilastras dum texto arbóreo

Rompe as emoções e os cantos de pássaros livres,

Onde o ar ganha volume e a música sabor.

Aqui no centro da criação, 

No peito da família há um berço criança

Há uma cruz em potente coração,

que em dádiva ao céu se ergue a torre.

E um olhar percorre o Azul infinito

Da criação ondulante gaudiana.

E é um gáudio estar ali,  lá e  aqui.

Voltar à memória de um curral,

Onde o animal te aconchegou humanamente,

E, animalmente,  te escorraçaram  da estalagem

com um "não há lugar! Estamos à cunha !"

Aqui tens o teu berço, amparado por anjos, 

Onde as mãos de concha maternal seguraram

A alma de um artista maior que o mundo.

Aqui as colunas sobem em árvore ao alto

 E como ramos carpinteiam  a humanidade de José.

Aqui estou eu, reduzido à formiguinha do pasmo

Bebendo e bebido de espanto num olhar visitante.

Aqui já nem eu sou. 

Tornei-me viajante de onde não estou,

Porque a arte não tem arte, mas a beleza tamanha

De ser céu sem artificio nenhum.


No centro da Sagrada Família, Barcelona julho de 2024

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