25/09/2009

VESPERTINIDADE

A tarde adoça a brisa húmida da cidade
Como um canto de gaivota passageira,
Grita pela chuva, a branca mensageira
E os montes se abafam da obscuridade.
Aqui, onde estou, vejo o barco partir
É branco e sereno o rasto deixado,
Ondas de água, mágoas da idade
E nesse seu ir de ficar aqui
Lembrei-me, de repente, de ti
E do tempo fugaz, passado
Naquele ouro, trigal luzidio
De breves espigas maduras
Na canícula mole de Agosto.
Gostosa tarde. Gostoso mel...
Quão doces foram nossos beijos...
Inocentes amantes da poesia.
Artistas dos mais puros desejos,
Que unem os amantes juvenis.
Mas a partida foi como o fel
De tão amaro, que já não doía,
Como se os amores fossem vis…
E a tarde nem seria mais cruel
Que, de dor, chorou minha dor!
E neste enlace de amena saudade
Coube neste momento o passado
E de mim, toda a vespertinidade
Foi-se na triste melodia do Fado,
Canto triste celebrante desse amor!

2 comentários:

  1. Saiu, assim, já perfeito? Não acredito ;) Como propôs a Agapê, um dia podias marcar encontro para nos contar coisas sobre o mistério dessa arte, o processo de gestação...

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