02/10/2010

JANELA

A rua, janela do futuro,
Corre louca no stresse
Do nunca está feito,
Do nunca acabou,
Do tempo é sempre pouco...
De repente, o tempo adejou
E tudo o que ficou  foi a pressa.
Apenas a pressa de fazer
 Numa angústia  de  viver.
A pressa de ter pressa.
Ou o medo de a perder.



A juventude esfumou-se
Na  tarde breve do acontecer.
Plantámos  e não colhemos.
Apenas sobrevivemos.
Como andámos, partimos
Noutra pressa doutro viver!

Vieram as rugas silenciosas
As lágrimas molhadas das manhãs
Crestaram as solidões da noite.
E nas paredes da casa saudosas
Se desenharam, à pressa,  os afãs
Que nos mataram a alegria.
A alegria simples de viver.
Um dia  tu partistes
Sem um último adeus.
Sem um beijo de despedida.
Eu fiquei só, em lágrimas, na dor.
E as folhas começaram a cair,
E o céu cobriu-se de águas.
A minha alma de mágoas.
Choveu,choveu, choveu!
Mas não lavou minha dor.


Agora, tenho tempo,
Parece ter parado,
E avalio as coisas...
As coisas que não fiz,
As coisas que não vivi...
Sento-me e fico calado
Misto de dor e contentamento
Revivendo o passado ausente.
Revejo aquele prédio cinzento
Na voz da tua ausência.
Mas o que mais me custa
Nesta sombra outonal
Que contigo  não comparti
É olhar a janela e saber
Que pra sempre te perdi!
.

3 comentários:

  1. Belíssima poesia que reflete a consciência de um Homem*
    Bravo, Jordas!
    Beijo amigo.

    Canção do Rei de Thule
    Goethe

    Houve um rei de Thule, que era
    mais fiel do que nenhum rei.
    A amante, ao morrer, lhe dera
    um copo de ouro de lei.

    Era o bem que mais prezava
    e mais gostava de usar:
    e quanto mais o esvaziava
    mais enchia de água o olhar.


    Quando sentiu que morria,
    o seu reino inventariou,
    e tudo quanto possuía
    menos o copo, doou.


    Depois, sentando-se à mesa,
    fez os vassalos chamar
    à sala de mais nobreza
    do castelo, sobre o mar.

    E ele ergue-se acabrunhado,
    bebe o último gole então
    e atira o copo sagrado
    às ondas que embaixo estão.


    Viu-o flutuar e afundar-se,
    que o mar encheu de seus ais.
    Sentiu a vista enevoar-se
    E não bebeu nunca mais!

    @ Translated by Renata Cordeiro.

    Tenha um Lindo Domingo*
    Renata

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  2. Pensar / Enfrentar o tempo é sempre uma aventura: 'ele' não gosta e nós ficamos perplexos: como passou? para onde foi? o que é que ficou? ... e não encontramos respostas :(

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  3. Lindíssimo Poema ... Parabéns!

    Meu carinho, minha admiração!

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