22/03/2014

QUEM VESTIRÁ DE SIGNIFICADO AS PALAVRAS?

Quem vestira do verde dos ramos
As palavras que nunca te direi?
Quem soprará nos sons o vento
As melodias que nunca ouvirei?
Quem?

Mas quem?
Neste tarde de Março dirá
O indizível prazer de te ler
Nas sombras arbóreas duma primavera
Que acabou, agora mesmo de nascer?

Quem dará o perfume das flores
À palavra rosa, jasmim e magnólia?
Ai daqueles! Ai de mim! Ai ! Ai!!!!
Ai de quem aprisiona cada palavra
Na rede, como pássaro em gaiola?

Quem cobrirá de mimos as palavras
Que, hoje, há medo em dizê-las?
Quem rasgará o manto cinzento
Dos sussurros fúteis do poder?

Quem,  pegando no arado, lavrará
O campo das palavras? E na terra
Deitará a semente que fará renascer
As palavras das manhãs de orvalho,
Ou do trigo ondulante por ceifar?

Quem será o lavrador das palavras?
Quem terá a coragem das encher
Da saudade, da beleza e da lágrima
Que ficou presa no rosto,
Presa ao rosto ao nascer?

Tu, poeta, arador das palavras,
Sulcaras os livros de versos legíveis,
Mas de todo indizíveis,
Porque tens o dom de fazer renascer,
Mesmo em tempo de escuridão,
Em cada palavra uma flor,
E em cada poema o perdão,
E em cada verso o aroma do amor,
E nessa tua inglória missão
De dizer o inaudito,
Mas que sempre será dito
No âmago do poema que fica por ler.

Poeta,
Veste a noite de lua,
Veste as palavras do perfume das flores...
E mesmo que te doía
Entrelaça-as em gestos de amores!
Veste-as com a esperança dos ramos,
Abafa-as com a manhã ao nascer
E tece com as flores a saudade dos frutos
Não te importes o que te possam dizer!
Importa-te em vestir o mundo de palavras
Das palavras palavras, sempre jovens de dizer!
E as palavras hão de, sempre,  renascer!

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