22/03/2014

QUANDO O VAZIO ENCHE AS PALAVRAS

 
Quando o vazio enche tudo
do vão sentimento de plenitude,
As palavras despem-se da melodia
E uma sombra as cobre de angústia.
Então, o poeta solta o seu grito de revolta:
 
Ai das palavras
Que mataram a memória dos dias,
Que mataram o perfume das flores,
Que encurtaram o voo dos pássaros,
E desbotaram suas cores!

 Ai!Como me dói esta falta da memória!
Ai! Como me magoa a palavra oca!
Ai! onde estão as tardes alpardinhas
Promissoras do descanso merecido?!
Ai! Como me dói essa dor de não doer!...
Porque as palavras são a indiferença coletiva.

Ai das palavras!
Que nos matam vivendo-as...
Que as matámos ao dize-las
Na ocosidade falsa e sem alma!
Ontem e hoje,
Ando à procura da memória do meu povo.
Acendo a minha lanterna e procuro o Homem:
Vou ao calhau à busca dos marinheiros....
Vou às praças à procura do filósofo ...
Vou à ágora para abraçar o político...
Vou onde nem sei, à procura do pastor,
Mas só encontro o vazio das palavras
no vazio das bocas
no vazio dos lugares
no vazio da memória.
no vazio do novo.
E, neste fim de dia
que a tarde escraviza
na canga da noite,
Estou eu, velho e sem palavras,
Porque me falta o brilho das manhãs
Que chegará renovado
Num orvalho de primavera!

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